Art. 225 da Constituição brasileira de 1988

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

22.5.10

Pré-ssagio

O vazamento de óleo no Golfo do México, com início em 20 de abril e de responsabilidade da empresa British Petroleum, provou-se maior do que se imaginava. Em uma matéria do Estadão de hoje pode-se ler que através de uma câmera subaquática o governo Obama detectou uma falha técnica da BP: o fato de que a empresa declarou um vazamento possivelmente 10 vezes menor do que o real, exigindo assim que esta faça um processo transparente para toda a população americana.
Um caso como esse é prejuízo para toda a humanidade, não só para os americanos, pois mais de 600 espécies foram colocadas em risco, fora os mais de 200 animais mortos encontrados até agora. Assim, o governo americano está certo em exigir transparência, mas o mundo todo também deve. Exigir não apenas transparência, mas agilidade e eficiência no processo de recuperação de um vazamento que não foi o primeiro e nem será o último, para a tristeza do grande planeta azul.
Não posso deixar de relacionar um problema tão grave com a grande descoberta de reservas no pré-sal que a Petrobrás está rapidamente tentando explorar. Há aí um interesse muito mais político do que qualquer outra coisa. A candidata à presidência pelo PT, nossa ex-ministra Dilma, está lidando com essa questão com tanta rapidez, afim de obter vantagens eleitorais, que não percebe que "a pressa é inimiga da perfeição".
Devemos tomar mais esse vazamento histórico como um alerta, uma chance de revermos certas prioridades. Penso que é extremamente irracional, no ano de 2010, depois de todo um processo histórico e batalhas por investimentos sustentáveis e recuperações ambientais voltarmos a investir em uma fonte de energia tão poluente quanto o petróleo como se ainda estivéssemos na déc. de 50.
No site oficial da Petrobrás encontramos dados como "Só o Plano de Renovação de Barcos de Apoio, lançado em maio de 2008, prevê a construção de 146 novas embarcações, com a exigência de 70% a 80% de conteúdo nacional, a um custo total orçado em US$ 5 bilhões." É claro que para uma afirmação como essa é preciso completar que esse investimento gerará 500 novos empregos no setor. Mas, "500 novos empregos diretos" são realmente significativos em um país com alto índice de desemprego? E 5 bilhões de dólares investidos em outros setores não gerariam mais empregos e renda?
Investir em um projeto como esse exige no mínimo um planejamento amplamente discutido, o que não é a mesma coisa que agilizar os processos de licitações para obter os créditos antes da eleição. Será que podemos dormir tranqüilos sabendo que não sofreremos uma catástrofe natural assim como o vazamento do Golfo do México?
Os danos seriam certamente maiores, pois não havendo a proteção de uma baía como lá, seria um vazamento em mar aberto, impossibilitando uma recuperação eficiente do petróleo despejado. Com o tamanho da área de exploração do pré-sal, mais espécies seriam atingidas, mais incontrolável seria a devastação.
Em compensação, o Brasil possui um potencial de exploração da energia solar maravilhoso, além de recentes descobertas de um tipo de tecnologia mais barata, realizadas pelos alunos de física da PUC-RS. Por que não investir 5 bilhões de dólares nessa iniciativa? Por que ninguém se preocupa em comparar os benefícios, levando em conta os danos e os riscos? Digo isso porque não temos o costume de pagar por nossos danos ambientais. Alguma reação tivemos no aumento do preço da água (alguém notou?), mas não incorporamos os valores da destruição do planeta nos combustíveis, nos cosméticos, nos produtos derivados do petróleo etc.
Não tenho dúvidas que se isso tudo fosse contabilizado, uma energia limpa seria muito mais negócio que uma poluente.
Devemos nos manter informados e nos utilizar de todos os meios possíveis para conscientizar aqueles ao nosso redor. Discutir questões como essa em escolas, universidades, no trabalho, com nossos filhos, para que juntos pensemos em soluções melhores e criemos opiniões realmente conscientes à respeito das questões ambientais.

Luciana Lira


A História das Coisas