Hoje tornou-se corriqueiro o encaminhamento do lixo, tanto industrial como residencial, para aterros sanitários. O problema é que isso não é nem de longe uma solução para os resíduos: o crescente consumo aumenta o volume de lixo em um sistema que não está preparado para isso, algo que podemos verificar facilmente na mídia se interessa-nos estar consciente do processo.
A maioria das grandes empresas do país, percebendo essa tendência, assumiu o compromisso de dar outro destino aos seus descartes: um destino rentável e sustentável. O reaproveitamento do lixo industrial na própria empresa ou a venda desse mesmo lixo para outras empresas que o utilizam como matéria prima é uma ação extremamente importante para que a panela de pressão dos aterros sanitários não exploda.
Baseando-se nessa idéia a J&J lançou uma escova de dentes em 2010 com 40% de plástico reaproveitado dos restos de fraldas e absorventes da própria indústria. A porcentagem é pequena, mas a iniciativa é interessante, para o planeta e para a própria empresa. Assim, seria essencial que todas as empresas buscassem soluções desse tipo, ainda com a possibilidade de aumentar seus rendimentos.
Trazendo o exemplo para o âmbito doméstico, é possível diminuir a quantidade de lixo gerado diariamente com pequenas escolhas e olhar criativo. A desinformação é a principal causa de certos erros considerados banais, mas que somados causam grandes conseqüências. Por outro lado, a aquisição de informação é facilitada a cada dia, tornando-se um problema essencialmente de desinteresse pelos processos de geração e descarte das coisas que consumimos. Permitam-me um alerta: não seja você mais uma pessoa alienada.
Estamos tão acomodados por essa mesma facilidade de acesso à informação que nos esquecemos até mesmo de fazer escolhas. Alguém dirá sempre o que é melhor para nós, a mídia, a novela, a pessoa famosa que admiramos. Mas será que você sabe o que é melhor para você? Em que aspectos das nossas vidas tomamos nossas próprias decisões? Se pararmos para pensar, muitas das escolhas feitas no passado seriam revisadas. Vivemos o “embalo” da moda, das tendências, da tecnologia. Metaforicamente falando: desistimos de nadar e resolvemos boiar até que a correnteza nos leve a algum lugar que chamaremos de nosso sem termos escolhido se era isso mesmo o que procurávamos. Além disso, a falta de olhar para o futuro impera. É possível dizer que vivemos hoje a “engorda do presente”, um presente inflado, grandioso, que nos impede de ver o futuro numa relação causal de nossas ações.
Por isso a importância de fazermos escolhas conscientes e não movidas pela inércia do movimento à nossa volta. O consumo é de sua escolha. Quem passa o cartão, dá o dinheiro ou o cheque é você. Assim, nós somos os únicos culpados pelas nossas ações, pelo nosso lixo, por nosso comodismo. Acabar com a alienação é um processo que deveria começar por cada um de nós, que preferimos ser iludidos sobre a procedência e o destino das nossas coisas e ações num processo de auto-enganação.
Na prática isso significa escolher o que compramos com sabedoria, olhar o padrão de consumo doméstico que adquirimos, não esquecer o processo industrial e de descarte de tudo que compramos e principalmente: escolher o destino de nosso lixo. De todas as ações citadas a mais executada por todos nós é levar algo para o lixo. Porém isso é feito com extrema repugnância e desejo de livrarmo-nos rapidamente do empecilho. Como verificamos anteriormente, as próprias empresas brasileiras estão revendo essa idéia na busca do lucro. Por que não tornarmos essa uma característica também do povo?
Olhe para o seu lixo. O que pode ser reutilizado, reciclado? São três destinos completamente diferentes: ressignificação do objeto, ou seja, dar a ele outra função antes de descartá-lo (e isso pode ser com ou sem alterações manuais – ex. artesanato); enviar para reciclagem, onde outros farão as escolhas; jogar no lixo, acumulando toneladas e toneladas em aterros sanitários mal fiscalizados, à mercê do tempo de deteriorização dos materiais ou das pessoas que em condições de extrema miséria, vivem do perigo de adentrar o lixo em busca de alimentos ou objetos.
Mude em 2011: deixe o barco da inércia bater contra as pedras sozinho e reflita sobre seu grau de alienação. A consciencia é sempre melhor do que a auto-enganação.
Luciana Sonck