Art. 225 da Constituição brasileira de 1988

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

31.10.11

O que a ocupação de Wall Street tem a ver com o fim do mundo?



Estamos acompanhando um processo muito importante nesse momento da História Moderna. Um movimento global, reivindicando democracias reais em mais de 80 países até agora, se firma como referência de mobilização social no século XXI. 2011 será lembrado como o ano em que o mundo como era conhecido se acabou. Independentemente do que aconteça a partir de então, como um rio que com suas águas correntes nunca será o mesmo, a História está fadada a escrever suas próximas páginas à luz dos acontecimentos revolucionários desse ano.

A Primavera Árabe, em Janeiro deste ano, inspirou lutas revolucionárias democráticas por todas as partes e, faltando apenas dois meses para 2012, não podemos deixar de incluir nessa lista as ocupações dos grandes centros que ganham corpo a cada dia. EUA, Inglaterra, Brasil, Chile, Espanha, Itália, Grécia, entre outros países, estão com suas capitais e grandes centros urbanos ocupados por movimentos sociais de toda ordem, unidos por um objetivo comum: a luta pela Democracia Real.

Penso que devemos perceber essa movimentação como uma grande oportunidade. No contexto da crise civilizatória como a que vivemos hoje, tomando os termos de Edgar Morin, se coloca novamente à nossa frente uma oportunidade de escolha. Momentos como esse são transpostos a partir de duas perspectivas bastante óbvias: rupturas ou conservações. Mesmo com uma idéia muito levantada hoje em dia de “terceira via”, ainda não está muito clara a possibilidade de sua existência. Na prática, até o presente momento, crises foram superadas com revoluções ou reformas.

No caso das ocupações atuais percebemos um viés de ruptura muito forte, com o modelo exploratório, com a busca pelo lucro a todo custo, com a negligência à figura humana, características marcantes do capitalismo industrial moderno. É possível analisar, portanto, os acontecimentos recentes desse ano como divisores de águas.

O resultado dessa luta certamente trará ao vencedor a legitimidade do campo político (Bourdieu) por muito tempo daqui em diante. A transformação dos paradigmas políticos ou a renovação do sistema vigente disputarão esse espaço para a perpetuação de seus ideais e a construção de bases que os protejam de novas lutas. Correndo o risco de ser pessimista, no caso de uma vitória pela ruptura, as chances dessa legitimidade dar-se por bastante tempo é certamente menor do que no caso oposto. Ora, isso porque se tratando de uma nova proposta, a oposição conservadora será muito maior do que no caso contrário.

Tomemos como exemplo a crise ambiental, inserida no guarda-chuva da crise civilizatória moderna. A partir do surgimento do termo Desenvolvimento Sustentável e sua suposta idéia de conciliação entre crescimento econômico e sustentabilidade, a tendência que observo em diferentes núcleos sociais é a de salvacionismo seguido de comodismo, como de costume. Isso quer dizer, ao verificar uma possível solução para a crise, sem debater-se amplamente a questão, apenas como uma possibilidade de solucioná-la no curto prazo, esfriam-se os movimentos questionadores e ocorre a apropriação do tema pelos núcleos dominantes.

O que podemos esperar, portanto, dessas ocupações? Que abracem seus ideais com unhas e dentes, por muito tempo, pois, usando uma expressão popular, “aí vem chumbo grosso”. A resistência conservadora se utilizará das mesmas tecnologias (e isso já está acontecendo) das quais se alimenta o movimento contestador, a saber o poder da comunicação, para tentar eliminá-lo. A escolha dos vencedores certamente se dará pela dimensão do apoio popular a uma corrente ou a outra. Mas, como disse, independentemente dela, nada será como antes.

E ninguém entendia como o mundo poderia acabar em 2012.

Luciana Sonck

7.9.11

Sustentabilidade e Corrupção não combinam!











Ao imaginarmos um futuro diferente, com menor exploração da natureza e do homem, um futuro sustentável, com sistemas inteligentes de uso e reuso dos materiais, com liberdade no mais amplo sentido, inclusive no de escolha, uma escolha consciente, não manipulável, não conseguimos enxergar paralelo a isso a continuidade da corrupção.

A sustentabilidade, atrelada a valores sociais como a justiça e a verdade, não pode existir com um sistema político de impunidade, de individualismo, de luta pelo poder, pelo ganho pessoal. Dentro de um modelo econômico não exploratório, de conservação da natureza e do bem estar da humanidade, a destinação do dinheiro público tem um peso muito importante. Claro que ela o tem independentemente disso, mas não podemos negar que esse fato tem sido ignorado freqüentemente principalmente pelas próprias campanhas eleitorais (um grande marketing pessoal sem propostas políticas e sim administrativas). Se o dinheiro público não servir ao bem público, de que adianta tratarmos tanto de sustentabilidade?

Hoje, dia 7 de setembro, comemora-se a Independência do Brasil. Hoje também os brasileiros estão se organizando em manifestações contra a corrupção em muitas capitais, com foco central em Brasília. Com o nome de “Caras Pintadas Contra a Corrupção” em São Paulo, mas com nome de “Basta” em outros estados, a manifestação organizada no vão do MASP atraiu jovens, famílias com crianças pequenas, idosos e até mesmo um grupo de motoqueiros HD.

Apesar de algumas vozes lutando por causas individuais (panfletos de políticos e de partidos, jovens buscando confrontos, dissidentes querendo expandir a manifestação para uma situação de perigo, desconsiderando claramente a quantidade enorme de crianças que ali estavam), a maioria dos “caras pintadas”, vestidos ou de preto ou com as cores do Brasil, cantaram em uníssono pela reforma política. O nosso hino nacional foi o ápice da manifestação, cantado inteiro, duas vezes após a caminhada pela Av. Paulista. O evento atraiu os olhos da mídia que cobriu com bastante energia o protesto.

Em meio à multidão diversificada, algumas mensagens faziam parar os fotógrafos, chamando a atenção dos transeuntes e mesmo dos colegas de manifestação. Uma delas chamou minha atenção: “Por uma cidade sustentável”. Pensei que não podia haver hora nem lugar melhor para clamarmos nossa bandeira verde do que em uma manifestação contra a corrupção, contra a injustiça social e contra a mentira.

Que todos os brasileiros aproveitem o feriado de hoje para usarem o verde, o amarelo e o azul, lembrando o que essas cores representam em nossa bandeira: nossas florestas, nossos minerais, nossas águas e nosso céu. Preservar a nossa gigante natureza é preservar também a nossa bandeira. E vice-versa.

Luciana Sonck

2.6.11

Encontro Butique Sustentável – sucesso de bilheteria!





No dia 15 de Maio, realizamos o evento “Butique Sustentável”, uma parceria do Projeto225 com a Associação Deuseluz. A adesão foi incrível, contamos com doações generosas para trocas entre as mulheres participantes, incluindo roupas e acessórios.

O objetivo do evento era promover a troca desses objetos para garantir um ciclo sustentável, isso quer dizer, que tudo aquilo que não desejamos mais e que ainda se encontre em bom estado possa receber uma destinação diferente do lixo (ver “Diversão e Sustentabilidade” –post de 19.01.11).

O mais importante nessa iniciativa foi a adesão positiva das pessoas. Acredito que muitos possuem o desejo de ajudar de alguma maneira a mudar o pensamento sobre as práticas sustentáveis, mas não sabem por onde começar. O bazar serviu como um exemplo de boas práticas para ser disseminado na nossa sociedade. Quebrar preconceitos contra objetos usados já é em si uma necessidade nos dias de hoje, afinal, onde iremos parar com um consumo desenfreado e um processo linear de destinação de lixo? (ver vídeo “A história das coisas” no blog).

Do costume de jogar nas águas para que os rios façam a limpeza até enviar lixo para o Espaço, evoluímos muito. Mas como? Apenas em termos de tecnologias. No fundo, a prática de negligenciar esse material é a mesma. “Lixo que vai para debaixo do tapete”, não é assim que se fala?

Disseminando boas práticas cotidianas podemos atingir um nível de consciência diferenciado. Claro que concordo que em termos de escala, o auxílio que uma grande empresa ou o governo podem proporcionar ao Planeta é muito maior. Mas quem está se preocupando com a mentalidade das pessoas? Ou alguém ainda acredita que enviar o lixo para o espaço ou para o fundo dos oceanos é resolver o problema?

São as mudanças do cotidiano dos indivíduos que inspiram as mudanças globais. Se você quer ajudar de alguma maneira, não esqueça o poder que tem a sua comunicação. Isso é educação ambiental. Isso é mudar de dentro para fora um sistema fadado ao fracasso. É com essa base, a conscientização das pessoas, que se podem criar tecnologias de mudança. Quando mudarmos o parâmetro que nos guia, quando deixar de ser o bem econômico e passar a ser o bem sócio-ambiental, poderemos progredir ainda mais.

Para conhecer o trabalho da Associação Deuseluz acesse: www.deuseluz.com.br ou blogdeuseluz.blogspot.com

22.3.11

Água: Reaproveitar e usar bem é bom para todos


O texto abaixo foi retirado da Revista Digital Envolverde (http://www.envolverde.com.br/); artigo do dia 22/03/2011, que emprestará seus conteúdos ao nosso blog!


Água: Reaproveitar e usar bem é bom para todos
Por Paulo Costa*

Relação entre a água e as cidades é crucial.A sociedade brasileira possui, como forte traço cultural, a dificuldade de planejar e poupar recursos, econômicos e naturais, traço esse que costuma trazer dificuldades ao país, no futuro. Isto também ocorre quando está em questão um bem natural cada vez mais escasso, a água: utilizá-la de forma racional e implementar medidas legais visando a estimular a captação das águas das chuvas são ações que trazem forte impacto positivo, econômico, ambiental e até de auxílio à prevenção de enchentes.


As grandes cidades brasileiras, nas quais as fortes chuvas são a causa de constantes enchentes e alagamentos, são justamente os locais onde o problema da falta de água potável poderá se agravar nos próximos anos. Justamente devido a esses problemas, que não exclusivos do Brasil, a ONU definiu como tema de seu World Water Day 2011 “Água e Urbanização”. A intenção é chamar a atenção para a importância dos recursos hídricos em um contexto de rápida urbanização – segundo dados do organismo, a cada segundo duas pessoas são incorporadas à população urbana. Na América Latina, 77% dos seus habitantes vivem nas cidades e as taxas de urbanização continuam crescendo.


“A relação entre a água e as cidades é crucial. Cidades requerem grandes quantidades de água fresca/potável e, por outro lado, geram grandes impactos nos sistemas de água limpa”, alerta a ONU, lembrando que enchentes, secas e outros eventos extremos, derivados das mudanças climáticas, também podem afetar a qualidade da água nos próximos anos. As grandes oportunidades nesse contexto estão relacionadas ao aumento da reciclagem e do reuso da água e do esgoto, por meio de tecnologias mais eficientes. A captação da água na própria cidade, por meio de sistemas de reaproveitamento das águas das chuvas, também são vistas como solução para o problema do abastecimento futuro.


Apesar da grande incidência de chuvas em boa parte no Brasil, são poucas ou quase inexistentes as iniciativas para a captação das águas das chuvas nas cidades. E, para piorar, por aqui a água potável é utilizada para fins menos nobres, como em descargas sanitárias, lavatórios, para lavar pátios, regar jardins etc. Essa realidade precisará ser repensada.A captação das águas pluviais nas edificações, especialmente em prédios, funciona como “piscinhas”, reservatórios que ajudam a diminuir bastante a quantidade de água que corre para córregos e rios em prazos muito curtos e em grande volume, causando as enchentes. Há diversos sistemas possíveis de implantação que, ao mesmo tempo em que solucionam a questão do uso da água potável para fins menos nobres, podem ser um aliado na mitigação de problemas causados por fortes chuvas, como alagamentos e enchentes.


No Brasil, há muito o que melhorar na relação entre cidades-abastecimento de água. Faltam conscientização, medidas para evitar poluição e incentivos para o uso racional da água, como a substituição de equipamentos hidrossanitários por produtos economizadores de água, que permitem economizar quase 70% comparado ao consumo dos produtos obsoletos e gastadores. Cidades dos Estados Unidos, como Nova York e Houston, por exemplo, já implantaram com sucesso programas de incentivo à adoção de equipamentos racionalizadores do consumo de água. E, claro, estamos ainda longe da desejada universalização do saneamento. O uso racional da água, além de permitir economia nas contas mensais de saneamento, com a diminuição das contas também é peça importante ambientalmente, uma vez que menos consumo &ea cute; igual a menos poluição e traz o benefício adicional de evitar a construção de novos reservatórios e adutoras, que provocam desmatamento e, assim, destruição de parte da flora e da fauna.


O país já dispõe de tecnologias e equipamentos de ponta para a implementação de programas de uso racional da água. Precisa haver estímulo legal à sua adoção, com benefícios fiscais, por exemplo, aos que trocarem equipamentos hidrossanitários gastadores por outros, economizadores. E é essencial que os responsáveis pela aprovação de leis em âmbito municipal, estadual e federal, vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, comecem a pensar com maior seriedade nessa questão e proponham textos legais que estimulem o uso racional da água e a captação de águas pluviais. A sociedade só tem a ganhar com essas medidas. E o meio ambiente certamente ficará muito grato.


*Paulo Costa é diretor da H2C, empresa de consultoria e planejamento de uso racional da água membro do Green Building Council Brasil.

21.2.11

Porcaria Hi-Tec


Em 2010 a ONU divulgou um relatório alarmante para o Brasil: somos o país que mais gera lixo eletrônico per capta entre os emergentes. Como a China tem uma população superior, os números per capta são inferiores. Nos números absolutos, o Brasil só perde para o gigante asiático, no que diz respeito a descarte de geladeiras, celulares, TVs e impressoras.

No mundo, 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são gerados por ano. Só no Brasil são 96,8 mil toneladas. Foi baseado nessa óbvia necessidade de reutilização e reciclagem que o Governo Federal implantou a lei que obriga as empresas de produtos eletrônicos a receberem de volta os aparelhos obsoletos descartados por seus consumidores.

Nesse momento torna-se extremamente necessário que a população se conscientize do problema e encaminhe seu lixo eletrônico ao destino certo. Além disso, a divulgação é muito importante, para que tais informações cheguem ao maior número de pessoas possível. Como ainda não há um projeto de divulgação dessas medidas, é importante que cada um de nós faça a sua parte, tanto no descarte quanto na disseminação dessas informações.

Essa semana o programa “Cidades e Soluções” do canal Globo News expôs o problema de forma inteligente e disponibilizando soluções. Particularmente recomendo esse programa, por tratar dos assuntos ambientais de forma prática e atual, expondo soluções dos governos e das empresas, mostrando possibilidades para o consumidor, divulgando iniciativas de ONG’s e instituições de outros países. Ou seja, ele tem um papel muito importante na conscientização da população que pode acessar os programas na íntegra também pela internet (para aqueles que possuem serviço de TV por assinatura podem assistir ao vivo aos domingos à noite, ou reprises).
Dentre as possibilidades apontadas por ele essa semana, o site E-Lixo foi apontado como canal de extrema importância. Nele podemos acessar todos os pontos de coleta de recicláveis da cidade de São Paulo, inclusive dos lixos eletrônicos, indicando ainda aqueles mais próximos da sua residência.

Não podemos nos esquecer que a obsolescência de certos aparelhos é absolutamente planejada. A necessidade do lucro encoraja as empresas a produzirem reduzindo a qualidade, fazendo com que o consumidor volte às lojas em tempo recorde. Por isso devemos adotar a prática da pesquisa e do investimento, calculando na compra o tempo de duração do aparelho. Também a obsolescência perceptiva nos desvia o olhar do que realmente precisamos. Isso quer dizer: tendências da moda nos fazem comprar novos eletrônicos (e muitas coisas mais) bem antes do tempo de realmente precisarmos daquele produto novamente.*

Concluo fazendo um apelo para que, em primeiro lugar, se consuma com consciência e real necessidade e também que se dê o destino certo a cada tipo de lixo, principalmente os eletrônicos, que possuem química complexa e tóxica, muitas vezes gases CFC que aumentam não só o Efeito Estufa, mas também os buracos na Camada de Ozônio, além de espumas regadas com ácidos prejudiciais à saúde. Se o problema era saber como e onde, agora ele foi solucionado. Acesse o site http://www.e-lixo.org/ e consulte os postos de coleta mais perto da sua casa. Para ver o programa “Cidades e Soluções” pela internet, acesse o link no site da Globo News.

Lembre-se também que algumas iniciativas necessitam de divulgação até para permanecerem no país. Certos investimentos tecnológicos são provenientes de países estrangeiros, principalmente europeus. Faça sua parte! Divulgue essas iniciativas e viabilize a coleta e a reciclagem de todos os tipos de resíduos no país. Use seus aparelhos eletrônicos para esse fim antes de descartá-los!


*ver vídeo “História das Coisas” postado anteriormente no blog


Luciana Sonck

31.1.11

Reciclar mais que objetos: reciclar idéias













As imagens acima mostram um pouco do que podemos fazer para reutilizarmos os materiais que não queremos mais. O Projeto225 produz suas camisetas e bloquinhos apenas com materiais que iriam ser descartados. As camisetas, por exemplo, são aquelas que estavam abandonadas, de lado, por estarem velhas ou manchadas. O que fazemos é pintá-las manualmente, dando um acabamento novo e uma utilização também nova: para o trabalho voluntário dentro do projeto.
Os bloquinhos de papel são produzidos com caixas de papelão, restos de papeis que já foram utilizados de um dos lados (provenientes das copiadoras da PUC-SP, que ainda não reciclam seu descarte), cordões velhos e pintura manual ou colagem. No caso dos bloquinhos em destaque nas fotos, as imagens da capa foram coletadas de agendas antigas que sempre possuem imagens ou versos interessantes. Para que nunca soube o que fazer com suas agendas antigas, aí está um ótimo exemplo de reutilização! Faça o seu também!

19.1.11

Diversão e sustentabilidade

O que fazer com as roupas que não queremos mais? A melhor alternativa é sempre doá-las para a caridade. Um gesto como esse não é apenas solidário e generoso, mas entra na categoria das ações ecologicamente corretas. Isso se dá porque aquelas pessoas que ganharem as roupas doadas não precisarão gastar dinheiro comprando e incentivando a produção de roupas novas. Alguns dirão que isso tudo é ruim para o mercado, para a economia, mas não é. Afinal de contas, as pessoas necessitadas não são os clientes em potencial de nenhuma indústria de roupas (deveriam, pois assim produziriam roupas de baixo curto e boa qualidade para que durassem mais).

Outra opção interessante é montar um bazar. O mercado de brechó cresceu em status nos últimos anos, com a incorporação de peças estilo “old school” às tendências da moda. Assim, mesmo as roupas antigas da sua avó podem ser reaproveitadas em um look completamente atual. Nesse sentido, montar seu próprio bazar com roupas coletadas das amigas, dos familiares, além de sustentável, é um bom negócio. Faça uma divulgação interessante, chame uma amiga cozinheira para montar uma barraca de lanches e seu bazar será um lugar divertido para ser visitado. A questão ambiental envolvida nesse processo é claramente a reciclagem ou reutilização das roupas. Isso garante que não se produza mais lixo, que o que ainda estiver bom será utilizado (mesmo que em um contexto completamente diferente) e que as pessoas não precisarão gastar mais dinheiro e recursos naturais para ter uma roupa nova. Além disso, você estará disseminando uma prática sustentável, servindo de exemplo para as pessoas do seu convívio.
A terceira opção (e aqui utilizarei um exemplo pessoal que achei muito interessante) seria a troca de roupas. A idéia envolvida é gerar uma circulação de roupas, ou seja, um círculo, em oposição a uma cadeia linear (produção, consumo, descarte). Reunir as amigas para trocarem de roupas chega a ser inclusive divertido, pois todos tem uma certa “tendência” a querer saber o que é melhor para o outro. Desta forma, cada uma com sua pilha de roupas que não quer mais (por várias razões como não servir mais, estar cansada de usá-la, ser um presente de alguém que você não gosta mais, enfim), é possível realizar uma troca que se mostra a melhor opção ambiental das três e eu explico o porquê.

Essa alternativa é interessante tanto por não gerar descarte quanto por não incluir o consumo de nenhuma das partes. As outras duas opções, por possuírem um modelo linear de movimento, exigem em algum ponto que se vá às compras novamente, afinal, só um dos lados está dando e o outro recebendo. Apesar de que o dinheiro gasto pela pessoa do bazar seria um dinheiro gerado por troca sustentável, a única maneira de garantir uma circulação das peças seria comprar suas roupas de outro bazar. Porém não há garantias de que esse exemplo continue. Enfim, o modelo de troca de roupas evita o consumo e não gera descarte por ser um movimento rotacional. Além, é claro, de ser uma boa alternativa para reunir seus amigos e se divertir com as possibilidades de customização. Quem disse que para ser eco é preciso ser chato?

Luciana Sonck

10.1.11

Contra a corrente

Hoje tornou-se corriqueiro o encaminhamento do lixo, tanto industrial como residencial, para aterros sanitários. O problema é que isso não é nem de longe uma solução para os resíduos: o crescente consumo aumenta o volume de lixo em um sistema que não está preparado para isso, algo que podemos verificar facilmente na mídia se interessa-nos estar consciente do processo.

A maioria das grandes empresas do país, percebendo essa tendência, assumiu o compromisso de dar outro destino aos seus descartes: um destino rentável e sustentável. O reaproveitamento do lixo industrial na própria empresa ou a venda desse mesmo lixo para outras empresas que o utilizam como matéria prima é uma ação extremamente importante para que a panela de pressão dos aterros sanitários não exploda.

Baseando-se nessa idéia a J&J lançou uma escova de dentes em 2010 com 40% de plástico reaproveitado dos restos de fraldas e absorventes da própria indústria. A porcentagem é pequena, mas a iniciativa é interessante, para o planeta e para a própria empresa. Assim, seria essencial que todas as empresas buscassem soluções desse tipo, ainda com a possibilidade de aumentar seus rendimentos.

Trazendo o exemplo para o âmbito doméstico, é possível diminuir a quantidade de lixo gerado diariamente com pequenas escolhas e olhar criativo. A desinformação é a principal causa de certos erros considerados banais, mas que somados causam grandes conseqüências. Por outro lado, a aquisição de informação é facilitada a cada dia, tornando-se um problema essencialmente de desinteresse pelos processos de geração e descarte das coisas que consumimos. Permitam-me um alerta: não seja você mais uma pessoa alienada.

Estamos tão acomodados por essa mesma facilidade de acesso à informação que nos esquecemos até mesmo de fazer escolhas. Alguém dirá sempre o que é melhor para nós, a mídia, a novela, a pessoa famosa que admiramos. Mas será que você sabe o que é melhor para você? Em que aspectos das nossas vidas tomamos nossas próprias decisões? Se pararmos para pensar, muitas das escolhas feitas no passado seriam revisadas. Vivemos o “embalo” da moda, das tendências, da tecnologia. Metaforicamente falando: desistimos de nadar e resolvemos boiar até que a correnteza nos leve a algum lugar que chamaremos de nosso sem termos escolhido se era isso mesmo o que procurávamos. Além disso, a falta de olhar para o futuro impera. É possível dizer que vivemos hoje a “engorda do presente”, um presente inflado, grandioso, que nos impede de ver o futuro numa relação causal de nossas ações.

Por isso a importância de fazermos escolhas conscientes e não movidas pela inércia do movimento à nossa volta. O consumo é de sua escolha. Quem passa o cartão, dá o dinheiro ou o cheque é você. Assim, nós somos os únicos culpados pelas nossas ações, pelo nosso lixo, por nosso comodismo. Acabar com a alienação é um processo que deveria começar por cada um de nós, que preferimos ser iludidos sobre a procedência e o destino das nossas coisas e ações num processo de auto-enganação.

Na prática isso significa escolher o que compramos com sabedoria, olhar o padrão de consumo doméstico que adquirimos, não esquecer o processo industrial e de descarte de tudo que compramos e principalmente: escolher o destino de nosso lixo. De todas as ações citadas a mais executada por todos nós é levar algo para o lixo. Porém isso é feito com extrema repugnância e desejo de livrarmo-nos rapidamente do empecilho. Como verificamos anteriormente, as próprias empresas brasileiras estão revendo essa idéia na busca do lucro. Por que não tornarmos essa uma característica também do povo?

Olhe para o seu lixo. O que pode ser reutilizado, reciclado? São três destinos completamente diferentes: ressignificação do objeto, ou seja, dar a ele outra função antes de descartá-lo (e isso pode ser com ou sem alterações manuais – ex. artesanato); enviar para reciclagem, onde outros farão as escolhas; jogar no lixo, acumulando toneladas e toneladas em aterros sanitários mal fiscalizados, à mercê do tempo de deteriorização dos materiais ou das pessoas que em condições de extrema miséria, vivem do perigo de adentrar o lixo em busca de alimentos ou objetos.
Mude em 2011: deixe o barco da inércia bater contra as pedras sozinho e reflita sobre seu grau de alienação. A consciencia é sempre melhor do que a auto-enganação.

Luciana Sonck