
Estamos acompanhando um processo muito importante nesse momento da História Moderna. Um movimento global, reivindicando democracias reais em mais de 80 países até agora, se firma como referência de mobilização social no século XXI. 2011 será lembrado como o ano em que o mundo como era conhecido se acabou. Independentemente do que aconteça a partir de então, como um rio que com suas águas correntes nunca será o mesmo, a História está fadada a escrever suas próximas páginas à luz dos acontecimentos revolucionários desse ano.
A Primavera Árabe, em Janeiro deste ano, inspirou lutas revolucionárias democráticas por todas as partes e, faltando apenas dois meses para 2012, não podemos deixar de incluir nessa lista as ocupações dos grandes centros que ganham corpo a cada dia. EUA, Inglaterra, Brasil, Chile, Espanha, Itália, Grécia, entre outros países, estão com suas capitais e grandes centros urbanos ocupados por movimentos sociais de toda ordem, unidos por um objetivo comum: a luta pela Democracia Real.
Penso que devemos perceber essa movimentação como uma grande oportunidade. No contexto da crise civilizatória como a que vivemos hoje, tomando os termos de Edgar Morin, se coloca novamente à nossa frente uma oportunidade de escolha. Momentos como esse são transpostos a partir de duas perspectivas bastante óbvias: rupturas ou conservações. Mesmo com uma idéia muito levantada hoje em dia de “terceira via”, ainda não está muito clara a possibilidade de sua existência. Na prática, até o presente momento, crises foram superadas com revoluções ou reformas.
No caso das ocupações atuais percebemos um viés de ruptura muito forte, com o modelo exploratório, com a busca pelo lucro a todo custo, com a negligência à figura humana, características marcantes do capitalismo industrial moderno. É possível analisar, portanto, os acontecimentos recentes desse ano como divisores de águas.
O resultado dessa luta certamente trará ao vencedor a legitimidade do campo político (Bourdieu) por muito tempo daqui em diante. A transformação dos paradigmas políticos ou a renovação do sistema vigente disputarão esse espaço para a perpetuação de seus ideais e a construção de bases que os protejam de novas lutas. Correndo o risco de ser pessimista, no caso de uma vitória pela ruptura, as chances dessa legitimidade dar-se por bastante tempo é certamente menor do que no caso oposto. Ora, isso porque se tratando de uma nova proposta, a oposição conservadora será muito maior do que no caso contrário.
Tomemos como exemplo a crise ambiental, inserida no guarda-chuva da crise civilizatória moderna. A partir do surgimento do termo Desenvolvimento Sustentável e sua suposta idéia de conciliação entre crescimento econômico e sustentabilidade, a tendência que observo em diferentes núcleos sociais é a de salvacionismo seguido de comodismo, como de costume. Isso quer dizer, ao verificar uma possível solução para a crise, sem debater-se amplamente a questão, apenas como uma possibilidade de solucioná-la no curto prazo, esfriam-se os movimentos questionadores e ocorre a apropriação do tema pelos núcleos dominantes.
O que podemos esperar, portanto, dessas ocupações? Que abracem seus ideais com unhas e dentes, por muito tempo, pois, usando uma expressão popular, “aí vem chumbo grosso”. A resistência conservadora se utilizará das mesmas tecnologias (e isso já está acontecendo) das quais se alimenta o movimento contestador, a saber o poder da comunicação, para tentar eliminá-lo. A escolha dos vencedores certamente se dará pela dimensão do apoio popular a uma corrente ou a outra. Mas, como disse, independentemente dela, nada será como antes.
E ninguém entendia como o mundo poderia acabar em 2012.
Luciana Sonck
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